SETEMBRO VERDE

SETEMBRO VERDE

Transplantes dependem da autorização

humanitária da família para doação de órgãos

A doação de órgãos e tecidos para transplantes é um gesto de profunda sensibilidade humana e amor ao próximo. Neste sábado, 27 de setembro, transcorre o Dia Nacional de Doação de Órgãos. A data tem como significado registrar o trabalho dos profissionais da área da saúde e seu esforço através de campanhas motivacionais para conscientização e aumento no número de doadores, diante de uma grande demanda reprimida em nível estadual e nacional.

Uma ação mobilizadora para divulgação destes propósitos vem sendo conduzida pelo Hospital São Vicente de Paulo (credenciado) através da diretora técnica médica Jibse Marchioro, a psicóloga hospitalar Indiara Martins e a enfermeira coordenadora da UTI Joice Elizabete de Moura. O mote da campanha resume tudo aquilo que ela traz como proposta, através do seguinte apelo: “Para ser um doador basta você querer e a sua família saber”. Simples assim.

Por força da legislação, mesmo que a pessoa tenha manifestado o desejo de ser doador em vida, inclusive com registro em Cartório, é a família que vai autorizar e decidir se permite ou não a doação de órgãos e tecidos. Para a psicóloga hospitalar Indiara Martins, a família nos instantes próximos da perda do ente querido, normalmente está fragilizada e se constrange ao ser consultada, o que exige uma acolhida numa conversação delicada de convencimento.

A NEGATIVA FAMILIAR –

De acordo com a Central Estadual de Transplantes, segundo registros de 2024, de 503 entrevistas feitas com as famílias pedindo autorização para doação de órgãos – apenas 239 foram efetivadas. Ou seja, nem a metade de potenciais doadores de órgãos e tecidos foram liberados para início do protocolo de doação. A maior causa de bloqueio e recusa para a doação, infelizmente – é a negativa familiar.

Segundo a médica Jibse Marchioro, a morte é um tabu da existência humana e as pessoas não gostam de conversar sobre ela. Para a médica, o doador deve deixar bem clara a sua intenção para a família, por que quando chegar a hora será ela que irá decidir. Aquela antiga certificação baseada na declaração em Cartório, não mais garante que isso irá acontecer. A incompreensão sobre o diagnóstico da morte encefálica, uma reanimação milagrosa ou crenças religiosas, entre outras possibilidades de reversão do caso, são as principais motivações.

“Um único doador pode salvar oito pessoas ou beneficiar mais de 20”, especialmente através da retirada de coração, pulmões, fígado, rins e pâncreas, que podem ser transplantados, além de tecidos como córneas, ossos, pele e vasos sanguíneos. Por isso, do o esforço para obter a autorização das famílias vale a pena. Segundo a psicóloga Indiara Martins é necessário adotar uma estratégia de convencimento para realizar a entrevista familiar, onde tem peso fazer uma comunicação humanizada e uma leitura do comportamento verbal e não verbal dos familiares envolvidos.

DEMANDA REPRIMIDA NO RS –

Para as especialistas do corpo clínico do Hospital São Vicente de Paulo, já houve uma significativa diminuição do comportamento preconceituoso da sociedade em relação a doação de órgãos, mas é preciso avançar mais. A demanda reprimida conforme a lista de espera da Central Estadual de Transplantes é a seguinte: Rim – 1496, Córnea – 1.165, Fígado – 177, Pulmão – 85 e Coração – 15. Em relação aos dados de captação, na lista atualizada em janeiro de 2025, temos: Potencial Doador – 780, Doador Elegível – 673, Doador Efetivo – 239, Doador com Órgãos Transplantados – 194, e Entrevistas Familiares – 503.

A mensagem deixada pelas integrantes da Comissão Intra-Hospitalar de Doação e Tecidos para Transplante – a CIHDOTT, em sua palestra para os acadêmicos de vários Cursos da Unicruz, como fez durante todo o Setembro Verde em escolas da rede municipal e estadual de ensino, órgãos públicos e entidades de classe, foi o pedido para que todos trabalhem no sentido de conscientizar a sociedade em direção a uma cultura de incentivo à doação de órgãos.

Só vamos avançar nesse processo quando isso se tornar uma prática comum, onde as famílias compreendam os protocolos – e deixem de lado inseguranças sobre o comércio de órgãos ou mesmo o desligamento de aparelhos – coisas absurdas diante da ética médica e dos padrões adotados pelo protocolo e exames fiscalizados pela Comissão Estadual de Transplantes.

“Tudo será feito para comprovação da morte encefálica, a fim de garantir que o processo transcorra com toda a segurança e transparência, não deixando margem para nenhum tipo de dúvida, uma vez que são realizados dois testes clínicos, teste de apneia e o exame de imagem complementar” afirmou a médica Jibse Marchioro.

 

 

 

 

 

FOTO – As palestrantes: médica Jibse Marchioro, psicóloga Indiara Martins e enfermeira Joice Elisabete de Moura.

FOTO 2 – Transporte de órgãos para centros cirúrgicos